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02 abril 2009

Por amor II

Nem desespero
se nem o frio
se nem o outono
que cada ano passa
mais
fortalece o amor

que dirá ou direi eu: de nós.

sem a distância
nem os mandamentos
nem a sanidade
e nem a pouca dor

nem o êxtase dos dias inocentes em que recordamos para esquecer depois
se nem o esquecimento: bastou.

fere o coração que nunca foi coroado.
fere a ficção: que nunca ultrapasse a vida.
e fere mais toda a ciência e aquilo que faz corrupta a alma
ou faria (porque ela congelou e junto consigo o corpo)

se nem nas maldições nossos nomes untados: nos separam nessa
agonia
viveremos nós em união?

se nem as mentiras que criei para que não ousasse jamais dizer
e não digo: porque é melhor mentir doenças
do que apagar o espírito: escuta.

arrastar em vão o nome dos coitados, graças a deus há velhice
mas não mais
remédio que me tome senão for por dose maior e maior assim

meu amor, cala-te meu nome
e peço: vaga.

meu amor, se o ódio
e a queda
nem os abismos e os céus douradas nuvens em chamas
ou
as rosas amarelas: e àquelas que de flor nascem apenas no inverno
puderam nos desatar

Vaga, te peço e conclui nosso destino em disparada
nem o desespero
nem a breve esperança de ser livre

nem a aceitação quando nos aceitamos finalmente
porque ainda
a inteligência covarde nos arrepia?

alguém ouvirá minha voz como um sopro de mentiras:
por que não é de verdade
feito o amor ao qual nos destinamos?

Então, perpetua a cultura dos pudores e dos arrependimentos
e dos casamentos em vão
Perpetuemos a indepedência austera e vivemos aos amigos

é deles e dos pobres estudantes que não sabem ainda a dor: a ingênua perpetuação de que tudo passará. a ingênua dádiva do meu riso.

mas jamais lágrima alguma será vista
ou em público
que tenha o peito erguido!

eu tive um sonho de não procriar mais: mas não se abandonam os filhos crescidos. eles continuam frágeis. e meus sonhos com eles. eu tive um sonho de um dia parar de tê-los e enxergar só o sol bendito. talvez morrer dopado até da morte e com um breve riso.

(e se um dia te perguntares: qual é o dia do meu poema verdadeiro, diga que é hoje. em que vivo.)

Mas vaga, porque estou em desespero: e o outono chegou finalmente
o que se completa: se completará e quem sabe haja o tempo
ainda de eu te salvar um pouco de mim

Um comentário:

So Much More Than Words disse...

Cara, vc leu oq vc escreveu? Pq sinceramente, é uma poesia de profundidade imesuravel...

Perfeitamente complexa, linda... Cheia de brincadeiras da inteligencia, "inteligivencia", da dor e da idade...

Sem pudor, sem mentiras... Apenas mistérios abraçados nos espaços entre palavras....

Me espantou... me encontrou...