Naquela hora eu não compreendia. Dor seduz homens de bem, não... Sei.
Mas ao menos não me terias, nem foste o primeiro a me trair. Seguiu e sei que seguira a paixão involuntária dos antigos cristãos, judaicos quase, e remotos homens de uma nobreza sem chão. A tua pátria agora minha.
Ah, amada me tornei, ao menos no final, quando, meu inimigo, teu coração pulsaste de compaixão e ardência nos olhos. Quanta morbidez ao ver minha face ensaguentada, descabeçada sobre o ar fixando-te ou algum ponto em que estavas na multidão.
Quase pediste para o carrasco que parasse, não foi?
E eu quase te amei por isso.
Tu, que odiei até ali, não pude deixar de contemplar o prazer íntimo ainda que fosse do teu erro.
Não podias mais lutar com a foice na hora mesma que a foice tinge teus olhos de amor, odiado.
Nem pude ao certo evitar que além mundo e em novo mundo nos reencontrássemos, um dia eu retorno a ver teus olhos me perseguindo feito amante e não poderei, por lástima, nada. A não ser o perdão hipócrita e dissimulado que te oferecerei.
Mas não do meu ódio surgiu a vingança, já era tarde até para odiar-te mais, a minha vingança se estabelecia não por mim, o destino que pôs em teus olhos novos filtros da minha face. Mas quem me guiaste aqui, senão tu mesmo com teus arroubos de me aniquilar a coroa.
E em teu coração odiado por doze futuros e encarnações eu coroarei o meu pecado.
Ame a mim, rainha,
Ana Boleña
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