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01 julho 2009

Carta ao odiado

Você ou tu que odiei por tanto tempo, tinha nos olhos lástima?
Naquela hora eu não compreendia. Dor seduz homens de bem, não... Sei.
Mas ao menos não me terias, nem foste o primeiro a me trair. Seguiu e sei que seguira a paixão involuntária dos antigos cristãos, judaicos quase, e remotos homens de uma nobreza sem chão. A tua pátria agora minha.
Ah, amada me tornei, ao menos no final, quando, meu inimigo, teu coração pulsaste de compaixão e ardência nos olhos. Quanta morbidez ao ver minha face ensaguentada, descabeçada sobre o ar fixando-te ou algum ponto em que estavas na multidão.
Quase pediste para o carrasco que parasse, não foi?
E eu quase te amei por isso.
Tu, que odiei até ali, não pude deixar de contemplar o prazer íntimo ainda que fosse do teu erro.
Não podias mais lutar com a foice na hora mesma que a foice tinge teus olhos de amor, odiado.
Nem pude ao certo evitar que além mundo e em novo mundo nos reencontrássemos, um dia eu retorno a ver teus olhos me perseguindo feito amante e não poderei, por lástima, nada. A não ser o perdão hipócrita e dissimulado que te oferecerei.
Mas não do meu ódio surgiu a vingança, já era tarde até para odiar-te mais, a minha vingança se estabelecia não por mim, o destino que pôs em teus olhos novos filtros da minha face. Mas quem me guiaste aqui, senão tu mesmo com teus arroubos de me aniquilar a coroa.
E em teu coração odiado por doze futuros e encarnações eu coroarei o meu pecado.
Ame a mim, rainha,

Ana Boleña

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