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18 junho 2009

Carta ao coitado

Que do coito foste feito e amado, e nele não se desfaz o medo nem a orla branca dos santos defeitos. Eu penalizo com meu pescoço aberto: eu sei que um dia tu me trairás em honra de nada, que é o nada que deixo no teu peito.
Mas não é por mal que sigo a sina minha, é coisa rara de se ver olhos tão belos e sujos de uma lama que escorre escondida, sempre escorre.
Tu bem poderias prever que teu triste fim chegaria! antes mesmo da minha partida.
Cruel! Talvez seja, cruelíssima eu nunca, pois do meu peito macio... não foste nele que dormiste enquanto choravas na noite escura? Não foste nele que apalpaste os teus recios noturnos? Eu te amamentei com meus trejeitos e serena coragem, eu te amamentei com meus defeitos e minhas doces ternuras.
Não, pobre coitado, não te enforques em mim. Embora me sufoques por um pouco, não sabes? Eu sempre estive perdida e caminhava. Tu foste trilha, não estrada. Mas que digo eu se sou falcão?
Ordem de asas.
Os céus tem ruas que se escondem ao vento, é largo e espesso o vento; só no teu ombro me rejuvenescia... então.
Escuta, não chora mais e assina À pena: antes que nunca mais e eu nunca mais parta!
É hora da garganta e da maldição, é hora da tão atrasada hora em que me refaço: não vês que tens arma de fogo em mãos e não atiras, por quê? Acaba.
Não eu poderia voltar. E esperas ainda?
Não eu posso dizer: coitado, coitado; e te evitas: o fim da minha partida.
Estava, antes mesmo que eu me recuperasse, em teus ombros e levitasse sobre as árvores do pântano, e te prometesse que voltaria... Estava. E era passado.
Não eu posso fazer outra coisa vendo-te tão brando, não é? Eu não poderia deixar que tu soubesses jamais: eu voaria, desde o início eu voava assim. São pernas pequenas as minhas nos teus ombros largos.
Lamento.
É hora, é hora, dizem as bruxas de Macbeth: lá longe...
Não questione mais o não da cabeça revirada. Faz tempo que a outro e a outro dedico desta minha jornada. Se antes da tua existência eu já amava.
Mais difícil é rejeitar teus olhos úkmidos de raiva e perdão.
Saiba antes, tua estrada não sou eu.
Companheira apenas,

Ana Boleña


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