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24 março 2010

Carta ao Amante

Sabemos o quanto temos sofrido, meu amor, mas não está ao meu alcance esta vida inteira. O amor eu já sei que não mata ninguém.
A amargura por outro lado tem te definhado bastante. Já não me reconheces mais. Já não me tens no teu leito de sono. E o desejo que tens da minha caveira, eu nunca poderei negar.
As minhas infantis brincadeiras chegaram ao fim, sinto crescente a idéia impressionante de continuar vivendo. Houve um tempo que a tua dor era minha miséria e houve outro mais bonito em que nela eu cresci asas e diamantes, só meus.
Não espera de mim recado bom. Estou só e estou bem assim. As nossas dívidas não serão quitadas aqui nem nunca numa outra esfera, posto eu não esperar por ti nem desejar lhe ver na minha chegada tardia.
O que estava previsto de nós era mesmo, sempre fora: o abandono. o claustro. a fobia ambígua dos atos precisos da nossa insônia.
Toda a maldade que nos causamos por ora se basta e secará como o pó seca e se junta à terra maior. Nem na praia que vire lama, mas nos pés de vários homens calçados ainda, para que nos esqueçam como temos nos esquecido.
Eu não tenho pretensão de ser-te por mais nem um dia. E nem um dia mais a porta estará aberta. Pelo contrário, os abutres te cercam, os meus olhos cintilam, na esperança de que a minha coroa seja o grande sinal da tua jornada finda.
Não te apresses em me ver ou persuadir me a consciência. Eu já não estou lá.
Logo vejo a vitória cair sobre minhas mãos como a luva que procurou por sua dona em dias de calmaria. Eu te presenteio com a alegoria máxima do meu riso, que ouves ao longe, e ao longe ouvirás ainda.
Não te preocupes quando morto do teu câncer eu não passarei por um palmo de ti e não rezarei uma oração cristã, já que seria hipócrita da minha parte e, sinceramente, dispensável.
Até houve um tempo, agora me lembro, que sonhei vagamente com a apenas glória de um amor juvenil, mas tu que me deixaste com a língua presa no coração, não pensou um dia que logo mais, mais breve possível eu te faria curvar.
Tua rainha,

Ana Boleña

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